Especial: «Aqui Não Há Quem Viva» - 10 anos

19 de maio de 2006. A SIC estreava, pelas 22 horas e 15 minutos, a sua nova aposta na ficção nacional: «Aqui Não Há Quem Viva». Dez anos depois, o SobreTudo recorda a série de humor e disponibiliza entrevistas com dois atores do elenco.

Sinopse:
«Aqui Não Há Quem Viva» mostra o dia-a-dia de várias pessoas que vivem no mesmo prédio e retrata as peripécias que acontecem entre vizinhos e pessoas de faixas etárias e classes sociais muito diferentes. 
Tudo começa com um casal que acabou de comprar um apartamento. Todos os inquilinos do prédio são diferentes e, por isso, as extravagâncias e divergências vão fazer parte do quotidiano dos moradores deste prédio. Cristina (Carla Salgueiro) e Rui (Martinho Silva) vão aperceber-se, rapidamente, que terão de aprender a conviver com os novos vizinhos. 

Personagens principais:
 
  • Emílio Laranjeira (Pedro Diogo) - É o porteiro do prédio. Assume a sua profissão com orgulho, apesar de o seu lema ser a lei do menor esforço. Não terminou o 9º ano. Não tem grandes ambições: quer apenas viver em paz na sua rotina sem que o prejudiquem. É desbocado, desconfiado, ingénuo e espalhafatoso. Tem uma frase recorrente ‘um bocadinho de por favor’, sempre que lhe moem a paciência. É, por vezes, de uma inocência inacreditável, o que leva a que os moradores e em especial o Administrador do Condomínio abusem dele constantemente. As raparigas acham-no patético, desinteressante, uma espécie de Calimero. Até o próprio pai, Alberto, o trata com frieza e crueldade, ao ponto de o escravizar.
  • João Costa (Nicolau Breyner) - Professor de Trabalhos Manuais, casado com Dulce e pai de Nuno e Paula. É o Administrador do Condomínio, mas assume esse estatuto, orgulhosamente, como se fosse presidente da Câmara. Gere esse pequeno poder de forma por vezes ilícita, mas para ele não há problema porque o estatuto lhe dá o direito de branquear as suas decisões. É um mitómano, mas também um permanente angustiado, manietado pela mulher, Dulce, com quem está casado há 18 anos. Ele é o administrador, mas ela é quem manda. Passa a vida a convocar reuniões de condomínio para resolver os mais disparatados problemas.
  • Dulce Costa (Maria João Abreu) - Dona de casa, casada com João e mãe de Nuno e Paula. Conservadora, ressabiada, um pouco histérica e muito invejosa. Ideal de vida: viver numa moradia com piscina e jardim e tornar-se proprietária de uma boutique com roupas desenhadas por si própria. Adora tudo o que os outros têm e ela não pode ter. Autoritária. Rédea curta para o marido. Faz dele o que quer. Dos filhos, nem por isso. Pêlo na venta: que ninguém se atravesse no seu caminho. Vai ter uma relação conflituosa com Cristina, por esta representar tudo aquilo que ela desejava ser e ter.
  • Paula Costa (Marta Andrino) - Estudante. Filha de Dulce e João. Inteligente e mais esclarecida do que os pais em relação à sua educação. Conhece o lado menos bom dos pais melhor do que ninguém. Prevê os problemas da família. Madura, sedutora apesar de ter apenas 17 anos. O primeiro namorado que lhe conhecemos tem cerca de 40 anos. Sabe o que quer e para onde vai. Tem uma noção da vida e do crescimento não habitual para uma rapariga da sua idade. Deixa a maior parte dos homens de água na boca e as mulheres indignadas pela maneira como se veste e pela independência que conquistou dos pais.
  • Nuno Miguel Costa (Rúben Leonardo) - Filho de João e Dulce, irmão de Paula. Os dois irmãos fazem a ponte entre estas duas gerações de pais e filhos. É inteligente, dá conselhos aos adultos (será um confidente de Rui, amigo de Emílio e de Pedro) e inquieta-se com questões dificilmente compreensíveis para alguém da sua idade, mas não deixa de ser um puto de 10 anos. Hobby: playstation.
  • Luísa Lopes Vaz (Marta Fernandes) - Tem 29 anos. Vive com Sofia num apartamento alugado à vizinha Celeste. Começa por trabalhar numa casa de hambúrgueres. É negligente com a sua própria imagem e descuidada. Não tem sucesso com os homens, algo que constata com uma amargura doentia. A sua relação com Emílio começa como se fosse uma atitude em desespero de causa: a seguir a uma acesa discussão que parece preceder o confronto físico – elipse – cama. Contudo, é uma personagem com fibra, não é uma mosca morta, tem a capacidade de se revoltar e lutar pelos seus interesses, como também tem momentos de doçura.
  • Sofia Reis (Soraia Chaves) - Típica suburbana ambiciosa, quer ser atriz, modelo ou qualquer coisa que a faça aparecer nas revistas ou na televisão. Quer ser vista e reconhecida a qualquer preço. Enérgica, despachada, dotada fisicamente, faz-se valer disso para escolher namorados, o que provoca ainda mais amargura à sua amiga Luísa. Ao longo da série vai ter flirts com vários moradores do prédio e, a princípio, acredita firmemente que Fernando não é gay e que vai poder ter um caso com ele. Não tem trabalho fixo, vai a castings e a dada altura até consegue fazer um anúncio. É a amiga Luísa que paga as contas da casa visto que o estilo de vida de Sofia não lhe permite ter grandes rendimentos.
  • Fernando  Navarro (Diogo Morgado) - Advogado, cerca de 30 anos. Atraente, o típico tímido misterioso, simpático, mas sóbrio, sem tiques. Bem-nascido, com uma educação de etiqueta, porém não se deixou afetar por isso na sua rotina. Escrupuloso, calmo, com raros, mas intensos acessos de fúria. Nos primeiros episódios, está marcado, sobretudo, por um conflito interior: a recusa em assumir publicamente a sua tendência sexual e o permanente confronto com o namorado Gustavo que insiste para que ele saia do armário.
  • Gustavo Maria Fidalgo (Luís Gaspar) - Jornalista. Namorado de Fernando. Trabalha numa revista tipo ‘Cosmopolitan’. Instável e hipocondríaco. Apaixonado por decoração e cozinha. Explosivo, pela mais pequena razão irrompe numa birra e amua. Depois volta ao seu estado normal quando já conseguiu o que quis. Senhor dos seus princípios, defende-os com afinco. Demonstra a sua paixão com mais fervor do que o namorado, mas apenas porque é mais extrovertido.
  • Celeste (Natalina José) - 60 e tal anos, mãe de Armando. Como tem muito tempo livre, ocupa-se em querer saber da vida dos outros. Não suporta ver o filho divorciado com as suas muitas namoradas, tal como não se incomoda em mostrar a sua presença para as afastar dele. Está quase sempre contra tudo, contra todos, e com cara de poucos amigos. Só alinha nalguma coisa quando se trata de espiar a vida de alguém, ou para jogar às cartas a dinheiro com as vizinhas da mesma geração, as irmãs Conceição e Palmira. Também é proprietária do apartamento onde vivem as amigas Sofia e Luísa. Trata as raparigas abaixo de cão, ameaçando-as permanentemente de que se não pagam o aluguer a tempo e horas as expulsa imediatamente. É indelicada para o Administrador do Condomínio que vê como um incompetente.
  • Armando (Pêpê Rapazote) - 40 anos, divorciado. Vive com a mãe Celeste desde que se separou. Viciado em engate, suposta razão do seu divórcio. Os seus problemas existenciais consistem em: ‘será que a minha mãe e o meu filho já estão a dormir para eu levar a nova namorada para casa?‘. Dá-se bem com a maior parte dos vizinhos. Com ele vão viver, alternadamente, os filhos Rodrigo e Rebeca, que passam o resto do tempo com a mãe.
  • Conceição (Rosa Lobato de Faria) - Está na casa dos 60 e vive com a irmã Palmira. Encerra o cúmulo da ingenuidade. Solteira, virgem, inocentemente inoportuna, timidamente cusca. Otimista, doce e excelente Relações Públicas. Adora tratar e manter as suas plantas e é meticulosa com a decoração da casa. É o oposto da irmã. Nunca teve nenhum relacionamento amoroso e custa-lhe perceber algumas modernices. No entanto, fica feliz com a felicidade dos outros e é uma pessoa querida por toda a gente. Mas há alturas em que até a própria irmã se sente tentada a tirar proveito da sua ingenuidade.
  • Palmira Almeida (Linda Silva) - Também tem 60 e tantos anos. Separada recentemente do marido que a abandonou sem dar qualquer satisfação. Decidiu refazer a sua vida junto da irmã Conceição, mas apenas pelos laços de sangue, porque em tudo são opostas, com a exceção do gosto pelo jogo. Em casa das duas há verdadeiros campeonatos de sueca, póquer e todo o tipo de jogos de cartas. Fumadora convicta, não quer saber o que os outros pensam dela. Gosta de bagaço e por vezes bebe mais do que a conta. Irónica, qualquer deixa de outro personagem é motivo de chalaça. Acha que tem muita graça. Tem sempre resposta na ponta da língua. Vive em constante conflito doméstico e existencial, mas no fim a importância que dá a qualquer problema é nula.
  • Cristina Alvarães (Carla Salgueiro) - Vai viver para o prédio com o namorado Rui. Trabalha na construtora do pai como agente imobiliária. Determinada, infalível, auto-estima sempre em alta. Protótipo da mulher moderna, prática, dedicada ao trabalho e ao namorado. Já planeia o casamento, mesmo sem ter falado com ele. Tem sempre tudo controlado. É muitas vezes a voz da razão num edifício onde parecem prevalecer a loucura e as opções menos óbvias. Como é organizada, entra em conflito constante com os símbolos do poder do prédio e as pessoas mais conservadoras.
  • Rui (Martinho Silva) - Arquiteto, vive de desenhar caricaturas e banda desenhada. Pensa o futuro de forma oposta à namorada. Não é ambicioso, vive com o que precisa e já lhe chega. De caráter instável, por vezes infantil. Tem dificuldade em impor-se nas situações mais difíceis. Com a namorada é submisso. A sua conduta é consequência de uma clara crise de emancipação, uma vez que vivia como queria com os seus pais. Tem uma relação de amizade com o miúdo Nuno, com o porteiro Emílio e com Pedro, o empregado do videoclube.
  • Alberto Laranjeira (Carlos Areia) - O verdadeiro intruja. Aparece como vendedor de enciclopédias, ‘tipo discurso estudado’, mesmo que não saiba do que está a falar. Não é o exemplo de pai a seguir. Trata o filho com frieza e não quer abraços nem beijinhos. A mulher expulsa-o de casa e ele decide ir viver com o filho para o quarto do porteiro. Os conselhos que dá ao filho raramente são acertados, apesar da sua convicção de ser um bom pai. Os vizinhos vêem-no como um parasita.
  • Pedro (Manuel Sá Pessoa) - A sua aspiração é ser realizador de cinema, mas não passa de um empregado de clube de vídeo. É cinéfilo: mais dedicado ao cinema de autor, aborrece-se com filmes comerciais. É impertinente, curioso, intrometido. Virgem, sonha com o dia em que possa encontrar uma rapariga que o ajude a mudar essa condição. Torna-se grande amigo de Emílio, Nuno e Rui, com quem partilha as suas experiências.

Restante elenco:
  • Amílcar Azenha - Diogo Alvarães
  • Lúcia Moniz - Rute
  • Hélder Agapito - Paulo Guerra
  • Helena Isabel - Isabel Guerra
  • João Baptista - Alexandre Guerra
  • Joaquim Nicolau - André Guerra
  • Manuel Castro e Silva - Rafael Alvarães
  • Marco Costa - Carlos Primo
  • Rita Ribeiro - Lurdes Quitéria Costa
  • Sofia Aparício - Beatriz Vilar

Curiosidades:
  • «Aqui Não Há Quem Viva» é adaptada da série espanhola «Aquí No Hay Quien Viva», exibida pela Antena 3, entre 2003 e 2006.
  • Foram compradas duas séries de 26 episódios, uma exibida em 2006 e outra em 2008.
  • As atrizes Marta Andrino, Marta Fernandes e Soraia Chaves estrearam-se em televisão com esta produção.
  • Teresa Guilherme, que assegurou a produção, fez uma participação especial no episódio 19 da segunda temporada.
  • A atriz Florbela Queiroz foi preterida por Rosa Lobato de Faria no papel de Conceição
  • A série foi reposta na SIC em 2010, 2013 e 2014.

Entrevistas
Marco Costa (Carlos Primo) | Martinho Silva (Rui)


1. Como surgiu a oportunidade de integrar esta série?
Marco Costa (MC) - O convite partiu por parte da produção.

Martinho Silva (MS) - Fiz casting para o papel e estive quase para ser escolhido escolhido para desempenhar o papel do funcionário do Videoclube [Pedro, interpretado por Manuel Sá Pessoa], mas lá acabei por ficar com a personagem Rui

2. Recorde-nos a sua personagem.
MC - Uma personagem muito bem escrita e muito bem definida logo de início! Iria criar conflito entre o casal principal! Tinha inúmeras cenas hilariantes e acima disto tinha o nosso querido Nicolau Breyner a dirigir.

MS - Um jovem arquitecto que ganha a vida a desenhar cartoons e que vai viver com a namorada para o 3º direito deste prédio. É um bocado imaturo e tem dificuldade em fugir às investidas da filha do administrador do Condomínio. 

3. Como foi dar vida a essa personagem?
MC - Foi um processo muito divertido... Mas o grande desafio foi torná-la credível... sem que ficasse um mero boneco! Isso é um dos perigos em comédia!

MS - Foi muito divertido e um privilégio enorme poder contracenar com um elenco daquela categoria. 

4. Já passaram dez anos. Que recordações guarda das gravações? 
MC - Os colegas sem dúvida! As cenas eram super divertidas... e por vezes era difícil fazê-las porque tínhamos muita vontade de rir.

MS - As melhores, porque acho que todos tínhamos a noção que estávamos a participar num projecto muito especial. Pelo menos para mim foi marcante. 

5. Acha que faria sentido a SIC apostar numa terceira temporada?
MC - Sentido faria sempre porque é um produto de qualidade. Infelizmente já perdemos alguns colegas que são muito difíceis de substituir... Foi um elenco com quem aprendi muito. Muito mesmo!

MS - Na verdade, nunca percebi como, com o sucesso que a série teve junto do público, não continuou na altura. Hoje, muito sinceramente, acho que não faria sentido. Não sem a memorável personagem do administrador do condomínio (Nicolau Breyner) e sem as hilariantes irmãs do 1º direito (Rosa Lobato de Faria/Linda Silva).



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